Saturday, June 28, 2008

O pensamento estagnado... Portugal a preparar uma nação ignorante!

O assassinato da Filosofia
Maria Luísa Guerra - 2008/06/28

A Filosofia no ensino secundário é uma disciplina decorativa. Sem
importância. Morta à nascença. Vai realizar-se no próximo mês de
Julho, em Seul, na Coreia, o Congresso Mundial de Filosofia,
organizado pelo FISF, organismo que concentra as sociedades dos
professores de Filosofia do ensino secundário e do ensino
universitário de todo o mundo. Tem a marca da globalização. É um
encontro de tradições pedagógicas, de reflexão sobre a natureza e o
papel da Filosofia na sociedade. Mostra o interesse dos vários países
pelo problema. Mostra o que é evidente: o carácter vivo e actuante da
Filosofia. O seu lugar insofismável na formação da mentalidade. Assim
acontece no mundo.
E em Portugal? Em Portugal assiste-se ao inédito. Pela primeira vez em
mais de um século (desde a reforma de Jaime Moniz, em 1895)
destruiu-se decisivamente a Filosofia no ensino secundário. Podemos
recuar mais atrás, a 1844, e mesmo aos Estudos Menores, criados pelo
marquês de Pombal em 1799. Estudos onde figurava a disciplina de
Filosofia Racional. Servia de acesso aos Estudos Maiores. Neste quadro
de interesse global já referido, lembra-se também que a UNESCO
instituiu o dia 15 de Novembro como Dia Mundial da Filosofia,
congregando 36 nações.
E em Portugal? Em Portugal desvaloriza-se o exercício do pensamento, o
rigor da análise, a descoberta de paradigmas e de valores, a discussão
de problemas, a formação do espírito crítico, a reflexão sobre a
aventura humana, parâmetros específicos da Filosofia e do seu ensino.
Sabe-se que a finalidade do estudo em qualquer disciplina não é o
exame. Mas também se sabe que, na prática, se não houver exame, os
alunos não se interessam. Não estudam convenientemente. Residual e em
vias de extinção a Filosofia no 12.° ano. Obrigatória no 10.° e 11.°
anos mas não sujeita a exame nacional. "Para que serve?" pensam os
alunos.
É uma disciplina decorativa. Sem importância. Morta à nascença. Ainda
se rege Filosofia na universidade nalguns cursos, cada vez mais
despovoados. Com este vazio no ensino secundário, acabará de vez.
O sucesso escolar não é gratuito. Depende de currículos apropriados,
mas depende sobretudo de cabeças bem-feitas, treinadas numa apurada e
progressiva ginástica mental, no exercício da abstracção, da
comparação, do dissecar analítico. Esse exercício cabe especificamente
à Filosofia.
No limite, pela depuração que exige e supõe, aproxima-se da
Matemática. Não é por acaso que grandes filósofos de referência (de
Pitágoras a Descartes, de Leibniz a Russell) foram matemáticos. Tirar
aos jovens esta ginástica mental é criar o caos. Multiplica-se no
mundo a presença e o interesse pela Filosofia. Em iniciativas globais.
De Paris a... Seul. Em Portugal, desvaloriza-se até a morte. Original.
Pedagoga

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